a gente tá bem, sim
- Gi Marques
- 26 de fev.
- 2 min de leitura

tava lendo a coluna dessa semana do gregório na folha de são paulo (não vamos abrir discussão a respeito de nenhum dos dois, combinado?) e, nela, ele fala sobre a delícia que tem sido ser pai: sem “mas”. porque todo mundo reclama que criança faz cocô na fralda e suja a cama com mini lençóis recém-trocados, fala de criança que esperneia e faz birra antes de aprender a engatinhar e parece que mira na sua boca pra fazer xixi. mas pra ele tá tudo bem. o ode é maior que o bode – e ele tá bem.
às vezes, a gente passa por uma grande onda de coisas ruins e vira a pessoa chata pra quem você não pode perguntar “tudo bem?” que recebe um balde de reclamações sobre a vida, as pessoas, as relações: são paulo, você sabe. mas aí passa, sabe? a terapia ajuda e as coisas acabam se aquietando e fica tudo bem. a gente consegue falar que tá tudo bem nas relações interpessoais, os amigos são ótimos, a gente encontra uma pessoa que acalma o peito só por existir e estar pertinho. não sei vocês, mas eu tenho um beijo guardado no bolso para os momentos de desespero e a certeza de que, se eu precisar, tenho amigos com quem desabafar, um pai que me abraça forte e uma pessoa disposta a carregar minha bolsa de viagem no ombro, mesmo que a má ideia de viajar de bolsa ao invés de mochila tenha sido minha – e o convite pra jantar no domingo a noite de mala e cuia, também.
é óbvio que, se caçar, vai achar um monte de coisa pra reclamar. eu, por exemplo, ainda tô muito longe de ficar rica, podia estar dormindo mais e me estressando menos; a história que nasci para contar tá longe de ficar pronta e eu sinto que estou escrevendo cada vez menos esse livro. mas, veja só, nunca escrevi tanto nos meus diários e voltei a desenhar. tenho acordado disposta e feliz, tenho caminhado mais e há semanas não tenho crises – nem de desespero, nem de asma, nem existenciais.
podia estar melhor? a gente sempre pode e vive pra melhorar no que dá. mas podia estar tão pior. podia ter tanta coisa ruim acontecendo. e, olha, vá lá: a gente tá bem. apesar da conta bancária. e desse sapato que machuca o pé. e das águas de março, abril e maio de são paulo. e de marielles, wagners, zés, joãos. e do corinthians. meu deus, ainda bem que a gente tá bem apesar do corinthians. se fosse depender dessa escalação pra ficar feliz, ia ser só lençol com cocô mole pra todo lado.
originalmente escrito entre 2019 e 2021, a julgar pelo comentário sobre a escalação do corinthians.
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