

giovanna marques
a minha história com as palavras é caso sério, caso antigo. do jeito que eu olho pra elas, do jeito que elas me fazem olhar pra cada letra. sempre sambei entre vogais e consoantes pra tentar ouvir minha voz. toda vez que tento falar de mim, me vejo obrigada a citar: caio fernando abreu que me formou enquanto ser humano palavreiro, fernanda young que me inspirou a deliciosa ousadia de ser uma desquerida. eu preciso citar adélia prado e a simplicidade do cotidiano, a ruptura lógica e, exatamente por isso, real de bukowski; eu preciso citar até mesmo meus amigos, preciso citar as pessoas que passaram por mim e soltaram poesias entre a reclamação da marmita e a reclamação sobre o trânsito. a gente só vive pra comer bem, essa pessoa me disse. isso realmente aconteceu ali na saída de diadema em 2019, eu arriscaria dizer. eu cito porque ler é alimento de quem escreve e eu vivo me alimentando religiosamente pelas manhãs. bebo café, de vez em quando faço yoga, de vez em quando faço caminhada, de vez em quando corro, de vez em quando não faço. escrevo todos os dias. canto sem saber, de propósito, em qualquer lugar. dou risada alto, faço piada na hora errada e vivo com alguma ziquezira de saúde. já bebi demais e hoje fofamente beberico uma cerveja ou um drink com mate. descobri que pra ser louca e falar a verdade não preciso do álcool. sou fumante há mais tempo do que gosto de me lembrar e ter nascido nos anos 90 muito provavelmente vai me fazer fumar até meus últimos dias. é possível escrever poemas sem um cigarro entre os dedos?, eu me pergunto. já parei de fumar um monte de vezes. todos estes foram os períodos em que menos escrevi. é preciso tomar cuidado ao se parar qualquer coisa. é preciso tomar cuidado ao parar. é preciso parar, afinal.
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com atenção.
procuro fazer o bem e estou sempre encontrando pra quem. tenho um milhão de amigos e já vivi o suficiente pra me permitir gostar da calma. beber café, de vez em quando fazer, de vez em quando não fazer. não esquecer nunca de gostar. e ficar gostando. abraçar meu cachorro. abraçar outros cachorros. beijar beijar beijar. amar profundamente. me entregar e tentar. gostar de tentar. uma fazedora: já fiz planos histórias aulas seminários zines livros que nunca terminei desenhos e já fiz amor, muito amor. já participei de momentos para os quais fui convidada e já me convidei para participar de momentos para os quais as pessoas jamais me convidariam. adoro ser convidada. muitas vezes pra dizer não. sou viciada em dizer não. sou viciada em dizer. tô sempre dizendo alguma coisa. ou melhor: tô sempre escrevendo alguma coisa. a minha história com as palavras é como manda rita lee pra todo amor que o valha: um caso sério.
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o futuro eu queria ser feliz
e encontrar
a felicidade sempre
e não perder nunca
o gosto de estar
gostando
(Stella do Patrocínio)
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